Gordura obstrui veia e mata por inflamação, diz grupo
Pessoas obesas têm problemas de saúde que vão muito além do excesso de peso, sofrendo com diabetes e sintomas cardiovasculares.
Um novo estudo ajuda a explicar como essa cadeia de riscos começa: é como se o organismo fosse tomado por um grande processo inflamatório oriundo do acúmulo de gordura dos obesos.
Para ser mais preciso, o tecido gorduroso de quem sofre de obesidade fica povoado de células ligadas aos episódios de inflamação.
Tais células produzem em abundância uma molécula, a chamada PAI-1, que atrapalha a regulação da quantidade de açúcar no sangue e facilita o entupimento de vasos sanguíneos, levando aos sintomas perigosos normalmente associados à obesidade. A pesquisa que aponta o papel-chave do PAI-1 nas mazelas que surgem do excesso de gordura está na revista especializada "Science Translational Medicine".
A equipe coordenada por Preeti Kishore, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, seguiu pistas que já associavam havia tempos obesidade e inflamação.
"A ideia de uma comunicação entre as células do sistema imunológico e inflamatório e o tecido adiposo [de gordura] já é conhecida", explica o endocrinologista Bruno Geloneze, coordenador do Laboratório de Investigação em Metabolismo e Diabetes da Unicamp.
Lado a lado
Sabia-se, por exemplo, que as células de gordura dos obesos vivem em contato estreito com grandes populações de macrófagos, as tais células ligadas aos processos de inflamação (veja infográfico acima).
Por outro lado, outros estudos haviam demonstrado que a PAI-1 impede que os coágulos dos vasos sanguíneos se desmanchem, e que camundongos modificados geneticamente para não produzir a molécula não se tornam obesos ou diabéticos mesmo com uma dieta rica em gordura.
Restava, no entanto, entender o elo entre uma coisa e outra em pessoas. "O grande valor do estudo reside na demonstração de um efeito agudo [de curto prazo], em condições extremamente controladas, em humanos.
A imensa maioria dos testes sempre foi conduzida em modelos animais, como camundongos e ratos", diz o pesquisador da Unicamp.
Para conseguir esse resultado, Kishore e seus colegas injetaram gorduras no organismo de 30 voluntários de ambos os sexos, pessoas saudáveis que não eram obesas. A injeção ajudou a simular os níveis naturalmente altos de gordura que circulam no organismo de obesos.
Depois, os pesquisadores obtiveram amostras do tecido adiposo dessas pessoas, constatando que, nas condições de "obesidade simulada", os macrófagos dos voluntários se punham a produzir PAI-1, em quantidade quatro vezes maior do que se verificou em pessoas que receberam apenas uma infusão salina (inócua).
Geloneze diz que o resultado "não revoluciona o conhecimento vigente".
"Tenho dúvidas quanto à real importância do PAI-1 nessa história toda. É possível que ele seja testado como um alvo terapêutico, mas outras vias podem ser mais importantes", afirma ele.
De qualquer maneira, diz o endocrinologista, os achados da equipe americana reforçam a ideia de que é preciso reduzir o consumo de gordura, em especial quando grandes quantidades desse tipo de nutriente são ingeridas de uma só vez.
No futuro, "as medicações deixariam de focar a redução do peso e passariam a limitar o efeito negativo de um tecido adiposo inflamado", avalia.